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domingo, 24 de setembro de 2017

VIVÊNCIA E EXPERIÊNCIA SOBRE OS ASPECTOS DA DEFICIÊNCIA VISUAL

EDUCAÇÃO ESPECIAL, O NOVO DESAFIO DO ENSINO NO BRASIL

Na última sexta-feira (22) aconteceu na Universidade Estadual de Santa Cruz, o minicurso “OS SERVIDORES DA UESC FRENTE À DEMANDA DO ATENDIMENTO AO PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: UM DESAFIO ATUAL”. As palestrantes foram Tattiana Côrtes Farias de Mendonça (Educadora Física) e Bárbara Maria Fagundes Andrade (Psicóloga).
Os serviços da Universidade frente a demanda de atendimento ao público da educação especial: um desafio atual. E para se entender desse desafio atual é necessário voltar um pouco ao passado para facilitar a compreensão do nosso momento atual.

Historicismo:
Ao pensar nas pessoas com deficiência desde o início da história da humanidade, os tipos de tratamento em relação às pessoas com deficiências, caracterizados pelos corpos e suas marcas, eram de eliminação, destruição e menosprezo. Fosse por necessidade de sobrevivência ou superstição, algumas tribos ignoravam, assassinavam ou abandonavam as crianças, adultos e velhos com deficiências e doenças. Outras tribos acreditavam em feitiçaria, maus e bons espíritos e por respeito e/ou medo não atentavam contra seus diferentes.
Na Grécia Antiga, aparecem imagens de corpos fortes para o combate em guerra visando à proteção do Estado, onde havia uma preocupação com o corpo saudável, forte e perfeito. Apenas amputações originadas da guerra eram consideradas honras de heróis e tratada com respeito. Aos diferentes, restava a morte, desprezo e abandono. Promovendo assim, a exclusão das pessoas com deficiências pelo fato delas serem consideradas incapazes mentais e/ou fisicamente.
Na Idade Média, a igreja católica detinha o monopólio do conhecimento e o utilizava para seus interesses pessoais. Neste período acreditava-se na visão de cisão do corpo/mente. Essa cristianização relacionava a alma a Deus e o corpo ao Demônio. Portanto, corpos marcados pela deficiência eram vistos como manchados pelo demônio, vindos à vida por conta de carmas e culpas de seus pais ou familiares.
No Renascimento que aparecem os primeiros indícios de pesquisas sobre a temática deficiência. Este foi um período fundamental para a revisão do cenário sócio-político-educacional, para a renovação de conceitos e o aumento do interesse pelo ser humano e pela natureza, proporcionando assim, o despertar sobre o diferente, os primeiros olhares sobre as pessoas com deficiências.
No capitalismo, a deficiência está relacionada à disfuncionalidade, pois o corpo deficiente está associado a uma máquina com disfunção de uma ou mais peças. Nota-se que o corpo, principal referência do ser humano, passa então a ser vivido na sociedade capitalista como uma condição de valor. Então, eu preciso ser produtivo para viver em sociedade. Se eu executo uma tarefa de forma lenta, consequentemente a empresa terá prejuízo, então para se ter lucro é preciso ter pessoas produtivas, fortes e perfeitas.
Após a II Grande Guerra Mundial aconteceram algumas atitudes positivas em relação às pessoas com deficiência, onde foi iniciado em hospitais, primeiramente, programas de reabilitação dirigidos aos lesionados das Guerras como possibilidade para reintegrá-los ao mundo. Começa a surgir também, instituições preocupadas em atender esta população.






       O que é Humanizar?
       Fundamentar na autonomia e no protagonismo dos sujeitos - produzirá novas situações e desafios – (RE)CONSTRUIR-SE;
       Humanização nas práticas educacionais – propiciar a dimensão humana do próprio humano – SER – SUJEITO – CIDADÃO – INDIVÍDUO.



Em 2008, o programa Rede de Educação Especial: um caminho para a inclusão, objetivando apoiar a entrada, a permanência e a aprendizagem bem-sucedida dos alunos com necessidades educacionais especiais em todos os seguimentos de ensino e uma educação de qualidade para todos.
E aqui também se constitui o ensino superior, que assim como a escola historicamente foi um espaço reservado e privilegiado para grupos minoritários o mesmo se aplica ao ensino superior.

   O crescente o número de estudantes público alvo da educação especial que concluem o ensino fundamental e médio e chegam ao ensino superior. Esta situação exige que sejam tomadas as providências, sob pena de entrarmos em um processo que muito bem poderíamos caracterizar como “inclusão excludente”, onde estudantes entram pela porta da frente (via vestibular ou enem), mas de dentro há pouco ou nada a se oferecer. Somos “hospedeiros”, cuja casa não se encontra em condições de receber culturas, identidades e alteridades distintas do modelo de normalidade constituído social, cultural, lingüística e historicamente.

Portanto, precisamos considerar 3 coisas básicas:

a) investir na formação de seus docentes e demais profissionais para viabilizar não apenas o acesso, mas a permanência com sucesso dos alunos com deficiência nos seus cursos, bem como para modificar os discursos e representações sociais sobre aqueles a serem incluídos presentes no seu interior;
b) investir na adequação das condições alternativas de apoio educacional aos alunos com deficiência e seus professores, visando oferecer condições equiparadas a todos seus alunos independente das condições físicas e sensoriais que estes possuam, viabilizando o fluxo equivalente a dos demais alunos àqueles com deficiência;
c) investir na elaboração de uma política interna de inclusão educacional, para evitar ações isoladas, pouco consistentes.

    Aqui no público da educação especial não cabe apenas as pessoas com deficiência já apresentadas, mas também os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) - pessoas com síndromes do espectro do autismo; Altas habilidades/superdotação - pessoas que demonstram potencial elevado. Mas daqui para frente nós vamos tratar especificamente das pessoas com deficiência e como nos posicionar e colaborar com atitudes positivas que favorecerão a inclusão dessas pessoas.

a) Formação pedagógica continuada do corpo docente e dos colaboradores para a educação inclusiva;

b) Realizar ações que propicie a participação de alunos e professores, no reconhecimento das diferenças;

c) Implementar métodos onde possam ser trabalhadas as dificuldades que surgirem no contexto: pessoas com deficiência – Instituição;


    e) Se a instituição como um todo não consegue comunicar-se ou criar uma interação leal entre si, o aluno acaba sendo prejudicado.


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

SUICÍDIO: UMA DAS CONDIÇÕES HUMANAS DE SUPORTAR A DOR?

Por: Bárbara Andrade.

No mês de setembro acontece o “setembro amarelo”, campanha mundial que tem por objetivo abordar, salientar e chamar atenção acerca do suicídio no Brasil e no mundo. Setembro foi escolhido, pois no dia 10 se comemora o dia “Mundial de Prevenção do Suicídio”. Começou a acontecer aqui no Brasil em 2014 no Distrito Federal. Essa campanha foi trazida ao país pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Conselho Federal de Medicina e pelo Centro de Valorização da Vida.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou em 2014, que o Brasil é o 8º país com a maior taxa de suicídios do mundo. O estudo afirma, ainda, que mundialmente a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio. Em 2015, a OMS informou que o suicídio mata mais jovens no mundo do que o HIV, sendo a segunda causa no mundo em pessoas com faixa etária entre 15 e 29 anos, e maior taxa de mortalidade entre pessoas com idade de 70 anos (em muitos casos pela diminuição ou ausência de cuidados e, pela solidão). Você já deve ter ouvido falar também nos crescentes índices de adolescentes (fase de transformação, crises da fase, luto pela perda do corpo infantil), que cometem este ato, principalmente depois do movimento do jogo da baleia azul e também depois da série que conta a história de uma adolescente suicida. Segundo algumas pesquisas os profissionais que mais cometem suicídio no Brasil são médicos e policiais.

O suicídio é um fenômeno multifatorial, complexo e puramente da condição humana (dor de existir), não acontecendo no meio animal. Presente em todas as culturas, classes sociais e faixas etárias. Este fenômeno foi dotado de diferentes significações no decorrer da história. Em algumas nações entendiam como algo que transgredia a moral, outras pensavam como algo heroico pela pessoa que cometia o ato do suicídio. Por exemplo, na Grécia achavam que os casos de suicídios eram por motivos de patriotismo, remorso, fidelidade, amor, castidade, etc. Já em Atenas, o suicídio era considerado legítimo para níveis sociais mais altos. Na Idade Média, este ato passou a ser condenado, não só pela Igreja, mas também pelo Estado. Religiosos como Santo Agostino, em seu tratado “A Cidade de Deus”, condena radicalmente o suicídio como uma interdição do mandamento do Decálogo “Não matarás”. São Tomás de Aquino reafirma a proibição do suicídio e defende a interdição da sepultura de suicidas em terras sagradas. Nesta época o ato suicida era visto como uma tentação do demônio e pessoas que tentavam o suicídio quando sobreviviam, recebiam punições severas, e quando não sobreviviam não eram enterradas em meio a outras pessoas que tiveram outra causa de morte. Atualmente, o suicido é um fenômeno visto com outro significado, com outro olhar e como algo da ordem patológica, apesar de ainda ser um tabu. No Brasil as leis condenam a indução ou o auxílio ao ato suicida. Apesar desse novo acerca do suicídio, ainda é visto como um mistério, preconceito e tabu para sociedade. Mistério, pois sempre há a pergunta: Porque as pessoas cometem suicídio? E tabu, pois ainda existe a crença voltada para o discurso religioso, moralista que quem se mata cometeu um ato sem perdão. E de preconceito, pois se acredita que as pessoas suicidas são fracassadas e que falharam em suas tentativas de superação mediante a seus problemas.

Como foi dito anteriormente, o suicido é complexo e tem causas multifatoriais que vão desde perdas (entes, trabalho, animais, etc.), personalidade (pessoas impulsivas, precipitadas), fatores socioculturais, genéticos (para alguns especialistas), até provenientes de doenças mentais (alcoolismo, dependência química, transtornos mentais e depressão). Por exemplo, pessoas com histórico de depressão estão mais propicias a cometerem o ato suicida. Vale salientar que não são todos os depressivos e mesmo pessoas com perfis supracitados que cometerão o suicídio. A forma de saber lidar com sua dor, angústia e mesmo com sua tristeza é peculiar de casa sujeito, por isso, em alguns casos pessoas deprimidas com a perda de um emprego, por exemplo, não dariam conta dessa dor, desse grande sofrimento psíquico a não ser pelo ato suicida.

Na sociedade capitalista temos que produzir e consumir, e até mesmo de que os indivíduos devem sempre manter-se num estado de felicidade plena. Por isso, o indivíduo depressivo se torna aos olhos da sociedade como improdutivo, incapaz e estático, pois em algumas situações se introspectam socialmente, “falam” de suas dores, de suas tristezas, angústias e logo são julgados por isso, e ouvem sempre que “isso não é a saída”, “bola pra frente”, “não fique triste”, etc.

Uma pergunta sempre frequente: quem vai se matar, vai avisar antes? Vários são os fatores de risco para que pessoas cometam o ato suicida como já foram supracitados. Pessoas com histórico de suicídio na família, acometidas por algum tipo de violência (abuso sexual, abandono, etc.), rede social fragilizada (falta de amigos, ausência da família), pessoas que se automutilam, não dão conta de mudanças marcantes, além de tentativas de suicídio antes, pessoas que em seus discursos falam que acreditam estar com algum tipo de doença incurável (mesmo não estando), são sinais que podem cometer o ato suicida.

O sujeito pode não dizer com todas as letras que irá se matar, mais pode por meios de comportamentos e atitudes dar indícios dessa vontade de dar fim a própria vida. Como no caso de adolescentes que se cortam com lâminas e sempre que perguntado se os cortes não lhe causam dor, estes respondem que o corte não provoca dor e sim alivio de uma dor (abandono, abuso sexual, mal tratos, etc.) que não sabem “falar”, não sabem lidar com ela. Alguns pacientes depressivos costumam dizer que acreditam está com um câncer, com problemas cardíacos, quando na realidade não há doença alguma e sim vontade da morte, o desejo de morrer se “converte” em forma de corpo. Vale salientar que pessoas com histórico de depressão ou mesmo histórico de tentativas de suicídio não devem ter armas, materiais tóxicos em casa, e nem devem está de posse de seus medicamentos (caso de pacientes que fazem terapia medicamentosa).

Suicido não é um ato de fraqueza, covardia, de que quer se chamar a atenção, de falta de fé em Deus. A dor da alma é algo muito mais complexo e intrisico do que se imagina. O que você deve fazer quando alguém diz a você que vai se matar? Jamais julgue esta pessoa, apenas a escute e, ouça o que dói nela e em que você pode ajuda-la. A presença da família e de amigos é de suma importância neste processo. Sabe-se que em alguns casos de suicídio, a família sente-se impotente, que falhou em algo, muitas vezes sente amor e ódio (sentimento ambivalente), dentre tantos outros sentimentos. A família jamais deverá ser culpada pelo ato suicida de seu ente. Ela deve sim ter acompanhamento terapêutico psicológico para que possa elaborar sua dor de perda.
O trabalho do Psicólogo é muito importante neste trajeto, este profissional deve oferecer um acolhimento no sentido de lugar de escuta, com imparcialidade, sem julgamento, para escutar além dos “ditos”.

Quais instituições você pode procurar para ajudar seu amigo ou ente? Na capital tem o NEPS – Núcleo de Estudo e Prevenção ao Suicídio e no interior você pode procurar nas redes públicas os CAPS – Centro de Apoio Psicossocial, Policlínicas e outros serviços de atendimentos clínicos especializados. E redes privadas como profissionais da área de saúde mental: psicólogos e psiquiatras. 

Bárbara Andrade

Psicóloga CRP 03 6845
Consultório particular no Ediício Boulevard - 5º andar - sala 503 - Itabuna
Instagran: barbarpsi

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Imagem retirada da internet

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

AGRAVOS PSICOLÓGICOS DO ESTUPRO


“[...] Não houve constrangimento.”. “Sexo: se não é opção, é abuso.”
A dignidade do ser humano é intransponível e intransferível.
Começo este texto com estas frases que causaram discussões nos ambientes cibernéticos e não cibernéticos, gerando várias indagações acerca do “lugar” da mulher, o direito de não ser invadida, abusada, mulher como objeto sexual, empoderamento, Leis ou leis? Ética ou ótica? Abuso ou estupro? Será que o abuso ou mesmo estupro é somente quando há penetração, e os agravos simbólicos disso?
A Organização Mundial da Saúde - OMS considera violência contra a mulher qualquer ato que cause ou tenha alta probabilidade de causar dano físico, sexual, mental e porque não dizer também social. Pois, quando se pensa em abuso sexual pensa somente nas causas físicas e sexuais e, ainda, se permeia a cultura do estupro - Quando se interessa saber quem é o algoz, sempre a culpabilidade recai sobre a vítima (roupas, lugar errado/inapropriado, verbalizações etc.).


Mas, as causas não são somente estas e digo que a “marca” simbólica é muito maior do que se pensa. Será que a Justiça ou mesmo esta cultura patriarcal arraigada em algumas veias sociais pararam para pensar, por exemplo, nesta mulher que teve em seu pescoço resquícios de esperma ou mesmo estas tantas mulheres que são assediadas e/ou estupradas em seu ambiente de trabalho, lar ou na rua, ficam marcadas psicologicamente?  
Citados por Souza e colaboradores (2012), Villela e Lago (2007), falam que, “É necessário enfrentar essa problemática nos âmbitos públicos da Segurança, do Direito e da Saúde, pois a violência sexual provoca uma gama variada de consequências nas suas vítimas”. Para Diniz (2007), “A violência contra a mulher é o retrato da desigualdade de gênero existente no país, que determina papéis, posições e deveres diferentes do feminino e do masculino.”.
Os agravos psicológicos são inúmeros em mulheres que são vitimas de abuso sexual, agravos como: ansiedade, depressão, suicídio, transtorno pós-traumático (TEPT), sentimentos de medo da morte, sensação de solidão, transtornos da sexualidade (vaginismo, dispareunia, diminuição da lubrificação vaginal ou mesmo a perda do orgasmo), dentre outros. Em sua grande maioria, as vítimas sentem-se “sujas”, “feias” e “nojentas”, além de ter vergonha de seu próprio corpo.
Ao tentar “sobreviver” a este trauma, ao ter suas barreiras violentadas, invadidas, tenta fazer suas ressignificações acerca de novos limites entre si mesma e o mundo. Porém, em algumas vítimas tais delimitações são construídas subitamente pela evolução traumática, como por exemplo: ganho de peso, desleixo pessoal, baixa autoestima, introspecção social, o não se sentir atraente sexualmente, problemas de aprendizagem (principalmente em crianças e adolescentes) ou de comportamento. Vale lembrar que quando tais sintomas supracitados tornam-se frequentes e permanentes torna-se de ordem patológica.
Essas ressignificações na maioria dos casos, só há possibilidade de acontecer pela terapia psicológica, e em alguns casos também pela terapia medicamentosa (Psiquiatra), ambas oferecerão a vítima possibilidade de elaborar essa experiência que para muitas é da ordem do insuportável, do angustiante que acaba causando um sofrimento biopsicossocial.
O “abuso social” a mulher/feminino e porque não dizer às pessoas transgêneros, transexuais, homossexuais, de cor negra, com transtornos psíquicos, com deficiência visual, sensorial ou mesmo que não esteja nos padrões de beleza efetivamente é um problema de políticas públicas. Vivemos numa sociedade adoecida pela falta de compreensão de que a diferença nos faz melhor ou pior que o outro, porém é na diferença que devemos ser respeitados e compreendidos.
Ainda, se coloca a mulher no lugar de objeto sexual ou mesmo de submissão – seja nas músicas abusivas e de cunho pejorativo, nos ambientes laborais no que tange aos lugares hierárquicos, acadêmicos, sociais, etc. Mas este não é o seu lugar. O lugar da mulher com certeza é onde ela quiser, exceto no lugar de prazer ao sexo oposto.
A mulher vale muito mais que $3,80, ela tem o valor de vida, de essência. Exijo respeito ao desejo do ser humano, ser o que ele deseja ser, principalmente na condição de ser mulher!

Bárbara Andrade
Psicóloga - CRP 03 6845
Consultório Psi. Edifício Boulevard, sala 503, Avenida Aziz Maron - Itabuna, Bahia.