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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

CIRURGIA BARIÁTRICA: QUESTÕES PSICOLÓGICAS EMERGENTES APÓS O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO

JÉSSICA BACELAR

Antes de começarmos a falar sobre cirurgia bariátrica é relevante falar um pouco sobre a obesidade, que de acordo com o Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde - BRATS (2008), a obesidade tem alcançado proporções epidêmicas reconhecidas mundialmente, representando um dos principais problemas de saúde pública no momento. Sua abordagem deve ser integral, de forma a garantir acesso à prevenção e ao tratamento clínico e cirúrgico.
Sobre esse assunto a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica - ABESO (2009) define a obesidade em três níveis: grau I de obesidade engloba indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 34,9 kg/m2. Chama-se de obesidade grau II o IMC entre 35 e 39,9 kg/m2 e grau III, o IMC igual ou superior a 40 kg/m2. Diante dessa questão é importante abordar que o método cirúrgico é o último indicativo para tratamento da obesidade, sendo ela mórbida ou grau II.
A partir desse indicativo, Flores (2014) retrata o crescente número de cirurgias bariátricas no Brasil, que veio aumentando de 16.000 em 2003, para 60.000 em 2010. Através desses dados é possível perceber um número alarmante e preocupante no que diz respeito ao índice de obesidade grau II e III de forma que vem comprometendo a saúde e qualidade de vida dos brasileiros.
A obesidade, longe de ser uma “fraqueza de caráter” é uma doença crônica que afeta o ser humano nos seus aspectos físico, psíquico e social. (NAVARRO, F.; FARIA, A. C., 2007). Trata-se de um fenômeno multifatorial que envolve componentes genéticos, comportamentais, psicológicos, sociais, metabólicos e endócrinos (GONÇALVES; CHEHTER, 2012. p. 489).
Fandiño et al. (2004), comentam que após a cirurgia bariátrica diante da necessidade de mudanças drásticas nos hábitos alimentares, sociais e comportamentais, além da mudança de sua imagem corporal surgem, muitas vezes, dificuldades de adaptação à nova vida e de adesão ao tratamento, podendo, assim, colocar em risco o sucesso da cirurgia.
De fato outros autores retratam as dificuldades e desconforto nessa fase. De acordo com Marcelino, L. F. e Patrício, Z. M. (2011) nesse período o indivíduo encontra-se fragilizado fisicamente devido às reações comuns à cirurgia e também psicologicamente, em razão da privação alimentar e dos sentimentos de incertezas.
Segundo Ximenes, E. (2009, p. 135), “a imagem corporal não é mera sensação ou imaginação. É a figuração do corpo em nossa mente. É passível de transformação, em que todos os sentidos entram em colaboração”.
Quanto à adaptação em pacientes pós-operatório a autora ressalta que a adaptação em relação à imagem inicialmente pode ser mais confortável, já em relação aos pacientes que não foram submetidos à cirurgia, o quadro muda, pois os mesmos precisam adaptar-se a um corpo que não querem ter. Logo, os que já foram submetidos à cirurgia sentem logo a mudança, de uma imagem indesejada para algo que almejavam.  Porém, podem acontecer estranhamentos de si mesmo, devido ao emagrecimento rápido, pois o paciente depara-se frente a uma nova imagem/corpo, essa mudança, para muitos, requer tempo e readaptação.
A partir dessas colocações é perceptível a importância da avaliação psicológica no acompanhamento pré-operatório, pois é nessa etapa que o paciente irá se relacionar com o próprio corpo.
Por sua vez, referindo-se a Nóbrega, G. (2011), a obesidade traz questões de preconceito, discriminação, exclusão, fatores esses responsáveis pela fraqueza e sentimentos de culpa diante o sobrepeso, assim dificultando o estado clínico do paciente. De certo, é possível identificar que não são apenas as pessoas obesas que sofrem de algum problema emocional, pelo contrário, “qualquer indivíduo que esteja passando por alguma preocupação excessiva com o peso e o estímulo ao consumo alimentar.” (NÓBREGA, G. 2011, p. 63). Então, a obesidade pode ser entendida como um aspecto individual, porém sob interferências sociais, econômicas e ambientais.
            No que concerne à equipe multiprofissional ficou evidente ainda a importância do acompanhamento em todo o procedimento cirúrgico de modo que o psicólogo tem um papel considerável na equipe e para o paciente. Em outras palavras é possível identificar que os autores concordam e sustentam a ideia de que o acompanhamento psicológico e de equipe multiprofissionais é de extrema importância para o sucesso do procedimento cirúrgico, pois através desse apoio surge um meio eficaz para que o peso seja controlado evitando reincidências.
Pode-se perceber que ao abordar esse tema foi perceptível a influência que a sociedade implica num indivíduo obeso no que se trata das questões estéticas do corpo, desejo esse tão almejado que interfere de forma significativa no emocional dos mesmos. Salienta-se que os profissionais da área tenham um olhar diferenciado e que possam se especializar, sobretudo por ser um campo de pesquisa recente no que diz respeito ao quesito emocional/subjetivo da pessoa obesa, de maneira que possam implicar em futuras novas pesquisas.



Jéssica dos Santos Bacelar Dias
Psicóloga – CRP 03/IP13102
Esp. Práticas Psicossociais e Educação (em curso)













REFERÊNCIAS

BRASÍLIA. Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde (BRATS). Cirurgia Bariátrica no tratamento da obesidade mórbida. Brasília, 2008. Disponível em: < http://200.214.130.94/rebrats/publicacoes/Brats05.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2015.

Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 / ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. - 3. ed. - Itapevi, SP : AC Farmacêutica, 2009. Disponível em: < http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2015.


FANDIÑO. J. et al. Cirurgia bariátrica: aspectos clínico-cirúrgicos e psiquiátricos. Porto Alegre, 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082004000100007>. Acesso em: 02 abr. 2015.


FLORES, C. A. Avaliação psicológica para cirurgia bariátrica: Práticas atuais. Porto Alegre, 2014. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/abcd/v27s1/pt_0102-6720-abcd-27-s1-00059.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2015.

GONÇALVES, R. F. M.; CHEHTER, E. Z. Perfil mastigatório de obesos mórbidos submetidos à gastroplastia. São Paulo, 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v14n3/aop05-11.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2015.

MARCELINO, L. F.; PATRÍCIO, Z. M. A complexidade da obesidade e o processo de viver após a cirurgia bariátrica: uma questão de saúde coletiva. Santa Catarina, 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n12/25.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2015.

NÓBREGA, A. G. S. Obesidade, cirurgia bariátrica e emagrecimento: vivências e significados. Curitiba: Juruá, 2011.

NAVARRO, F.; FARIA, A. C. Avaliação do percentual de gordura corporal de pacientes obesos que foram submetidos à cirurgia bariátrica pela técnica de Fobi Capella. São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.rbone.com.br/index.php/rbone/article/view/58>. Acesso em: 30 mar. 2015.

XIMENES, E. G. Cirurgia da Obesidade: Um enfoque psicológico. São Paulo: Santos, 2009.


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