JÉSSICA BACELAR |
Antes de começarmos a falar sobre cirurgia
bariátrica é relevante falar um pouco sobre a obesidade, que de acordo com o
Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde - BRATS (2008), a
obesidade tem alcançado proporções epidêmicas reconhecidas mundialmente, representando
um dos principais problemas de saúde pública no momento. Sua abordagem deve ser
integral, de forma a garantir acesso à prevenção e ao tratamento clínico e
cirúrgico.
Sobre esse assunto a Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica - ABESO (2009) define a obesidade
em três níveis: grau I de obesidade engloba indivíduos com índice de massa
corpórea (IMC) entre 30 e 34,9 kg/m2. Chama-se de obesidade grau II
o IMC entre 35 e 39,9 kg/m2 e grau III, o IMC igual ou superior a 40
kg/m2. Diante dessa questão é importante abordar que o método
cirúrgico é o último indicativo para tratamento da obesidade, sendo ela mórbida
ou grau II.
A partir desse indicativo, Flores (2014) retrata o
crescente número de cirurgias bariátricas no Brasil, que veio aumentando de
16.000 em 2003, para 60.000 em 2010. Através desses dados é possível perceber
um número alarmante e preocupante no que diz respeito ao índice de obesidade
grau II e III de forma que vem comprometendo a saúde e qualidade de vida dos
brasileiros.
A obesidade, longe de ser uma “fraqueza de caráter”
é uma doença crônica que afeta o ser humano nos seus aspectos físico, psíquico e
social. (NAVARRO, F.; FARIA, A. C., 2007). Trata-se de um fenômeno
multifatorial que envolve componentes genéticos, comportamentais, psicológicos,
sociais, metabólicos e endócrinos (GONÇALVES; CHEHTER, 2012. p. 489).
Fandiño et al. (2004), comentam que após a cirurgia
bariátrica diante da necessidade de mudanças drásticas nos hábitos
alimentares, sociais e comportamentais, além da mudança de sua imagem corporal
surgem, muitas vezes, dificuldades de adaptação à nova vida e de adesão ao
tratamento, podendo, assim, colocar em risco o sucesso da cirurgia.
De
fato outros autores retratam as dificuldades e desconforto nessa fase. De
acordo com Marcelino, L. F. e Patrício, Z. M. (2011) nesse período o indivíduo
encontra-se fragilizado fisicamente devido às reações comuns à cirurgia e
também psicologicamente, em razão da privação alimentar e dos sentimentos de
incertezas.
Segundo Ximenes, E. (2009, p. 135), “a imagem corporal não é mera
sensação ou imaginação. É a figuração do corpo em nossa mente. É passível de
transformação, em que todos os sentidos entram em colaboração”.
Quanto à adaptação em pacientes pós-operatório a autora ressalta que a
adaptação em relação à imagem inicialmente pode ser mais confortável, já em
relação aos pacientes que não foram submetidos à cirurgia, o quadro muda, pois
os mesmos precisam adaptar-se a um corpo que não querem ter. Logo, os que já
foram submetidos à cirurgia sentem logo a mudança, de uma imagem indesejada
para algo que almejavam. Porém, podem
acontecer estranhamentos de si mesmo, devido ao emagrecimento rápido, pois o
paciente depara-se frente a uma nova imagem/corpo, essa mudança, para muitos,
requer tempo e readaptação.
A partir dessas colocações é perceptível a importância da avaliação
psicológica no acompanhamento pré-operatório, pois é nessa etapa que o paciente
irá se relacionar com o próprio corpo.
Por sua
vez, referindo-se a Nóbrega, G. (2011), a obesidade traz questões de
preconceito, discriminação, exclusão, fatores esses responsáveis pela fraqueza
e sentimentos de culpa diante o sobrepeso, assim dificultando o estado clínico
do paciente. De certo, é possível identificar que não são apenas as pessoas
obesas que sofrem de algum problema emocional, pelo contrário, “qualquer
indivíduo que esteja passando por alguma preocupação excessiva com o peso e o
estímulo ao consumo alimentar.” (NÓBREGA, G. 2011, p. 63). Então, a obesidade
pode ser entendida como um aspecto individual, porém sob interferências
sociais, econômicas e ambientais.
No que concerne à equipe
multiprofissional ficou evidente ainda a importância do acompanhamento em todo
o procedimento cirúrgico de modo que o psicólogo tem um papel considerável na
equipe e para o paciente. Em outras
palavras é possível identificar que os autores concordam e sustentam a ideia de que o
acompanhamento psicológico e de equipe multiprofissionais é de extrema
importância para o sucesso do procedimento cirúrgico, pois através desse apoio
surge um meio eficaz para que o peso seja controlado evitando reincidências.
Pode-se perceber que ao abordar esse tema foi
perceptível a influência que a sociedade implica num indivíduo obeso no que se
trata das questões estéticas do corpo, desejo esse tão almejado que interfere
de forma significativa no emocional dos mesmos. Salienta-se que os profissionais
da área tenham um olhar diferenciado e que possam se especializar, sobretudo por ser um campo
de pesquisa recente no que diz respeito ao quesito emocional/subjetivo da
pessoa obesa, de maneira que possam implicar em futuras novas pesquisas.
Jéssica dos Santos Bacelar Dias
Psicóloga – CRP 03/IP13102
Esp. Práticas Psicossociais e Educação (em curso)
REFERÊNCIAS
BRASÍLIA.
Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde (BRATS). Cirurgia Bariátrica no tratamento da
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Acesso em: 02 abr. 2015.
Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade e da Síndrome Metabólica
Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 /
ABESO - Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. - 3. ed. - Itapevi, SP : AC
Farmacêutica, 2009. Disponível em: < http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf>.
Acesso em: 02 abr. 2015.
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