Por: Valéria Amado
Deixe-se ser amado, porque o amor
que é bonito e autêntico não machuca nem trai, nem tampouco sabe o que são
lágrimas. O amor que nos dá a alegria é aquele que se oferece com os olhos
abertos e o coração entusiasmado, é uma relação madura e consciente onde não se
preenchem vazios nem se aliviam solidões egoístas.
Se pensarmos nisso por um
momento, iremos perceber que está enraizada na nossa cultura popular a clássica
ideia do “quem te quer bem te fará sofrer“. Isso é algo errado. A dor e o amor
são duas coisas bastante distintas. Porque a relação sincera baseada na
reciprocidade jamais terá na sua composição um aditivo tóxico
ou venenoso.
John Gottman é um dos melhores especialistas no que
concerne a relações amorosas. Em um dos seus livros, ele nos explica que o
segredo para que uma relação seja duradoura e feliz está em saber
agradar. Com isso, o professor emérito de psicologia da Universidade de
Washington realça a necessidade de o casal se ajudar mutuamente, de demonstrar
interesse sincero um pelo outro e, acima de tudo, de criar significados e
valores compartilhados.
Portanto, a dor não tem espaço
nem sentido nas relações. Nós convidamos você a refletir sobre isso.
Uma das características mais
notáveis dessas pessoas que conseguem estabelecer uma relação amorosa baseada
no respeito, na alegria e no crescimento, é que são capazes de amar como se
nunca tivessem sofrido antes, sem nunca transferir para a nova relação a dor
dos relacionamentos anteriores. Não há desconfiança nem manifestam amargura.
Mas a verdade é que também
encontramos pessoas convencidas de que o amor realmente faz sofrer, e isso
acontece porque as experiências passadas delas lhes ensinaram isso. Falamos,
claro está, da falta de amor. De fato, segundo um estudo publicado na revista “Journal of Neurophysiology“ diante do fim de uma
relação ou de uma desilusão amorosa, o nosso cérebro reage da mesma forma como
reage à dor física.
Para fazer frente a estas
situações tão delicadas, está a surgir atualmente um enfoque interessante
baseado na neurobiologia relacional. Esta teoria tem como principal ponto de
partida a ideia de que o nosso cérebro, graças à neuroplasticidade, é
capaz de curar estas feridas, estas marcas de dor.
Se fôssemos capazes de
reconstruir tecidos e fortalecer mais ainda essas ligações neuronais afetadas
pela dor do trauma emocional,
conseguiríamos sem dúvida atingir um equilíbrio interno mais saudável.
A teoria da “Neurobiologia
Interpessoal” (IPNB) foi desenvolvida pelo psiquiatra Dan Siegel. Segundo o
próprio autor, o melhor modo de curar estes circuitos neuronais afetados
pela vulnerabilidade ou pelo desconsolo por trás de um fracasso
sentimental é praticar a meditação.
O fato de favorecer um estado de
calma onde voltamos a nos conectar com nós mesmos é uma forma
bastante adequada de encontrar esse ponto de equilíbrio que faz entender
que o que dói não é o amor em si, mas sim as nossas ações e reações. A
nossa capacidade de saber nos “agradar” mutuamente, como nos indica John Gottman.
O que machuca é a falta de amor e
nunca o AMOR com letras maiúsculas. O que nos deixa tristes e nos
desconsola é a batalha perdida, o cansaço de um coração vazio, sem esperanças. Isso acontece quando já não se confia no “prometo
que vou mudar” ou “tenho certeza de que as coisas vão ser diferentes a partir
de agora“.
Devemos rejeitar completamente
quem nos vende um amor com sabor a lágrimas, quem nos tenta convencer que a autêntica
aprendizagem da vida chega com o sofrimento, e que todos, de algum modo, temos
que experimentá-lo para dessa forma podermos nascer de novo, nascer de verdade.
O que é certo é que a felicidade também ensina, e muito. Porque no amor com
letra maiúscula não existem acentos ofensivos, nem letras minúsculas carregadas
de egos, medos e desconfianças. O carinho que é bonito não dói nem procura
ferir, e se em algum momento aparecem o sorriso apagado e o olhar baixo, a
outra pessoa irá procurar a razão dessa nuvem passageira e afugentá-la para
sempre.
Tal como nos recordava Erich
Fromm, o amor é acima de tudo um ato de fé. Também poderíamos encarar
isso como uma salto para o vazio, onde apesar de ninguém nos assegurar de que
tudo vai correr bem, não temos dúvidas em arriscar, em oferecer sempre o melhor
de nós para agradar e permitir que nos agradem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário